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Twin Peaks e o outro lado do briefing

Uma caneca de café, dedos no teclado do computador, ideias e referências que transitam em sua mente. Esses são os elementos-chave que permeiam o universo de qualquer redator publicitário dos últimos anos. 

Entre um turbilhão de briefings e pautas, uma coisa é certa:  uma hora as ideias parecem escapar de nossas mentes. Para esses momentos, é preciso buscar no simples, a profundidade necessária. Afinal, não dá para trazer sempre o mesmo repertório para seus textos, campanhas e conteúdos de redes sociais. 

Mas como fazer isso? Bom, Mark Frost e David Lynch já provaram que com os ingredientes simples é possível criar a melhor  ̶ ̶t̶o̶r̶t̶a̶ ̶d̶e̶ ̶c̶e̶r̶e̶j̶a̶  narrativa, quando idealizaram e desenvolveram Twin Peaks. 

A personagem Margaret comendo a famosa Torta de Cereja no Double R Diner.

Criada nos anos de 1990, a série de TV trazia uma premissa clássica do gênero policial: uma cidade pequena, a garota popular assassinada, uma densa investigação do FBI, em busca do assassino. Mas Twin Peaks não se prendeu apenas a essa narrativa. Afinal, a famosa frase “Quem matou Laura Palmer?” não seria icônica se a série fosse apenas isso. 

Twin Peaks foi um ousado mergulho no surrealismo, em uma época em que os seriados eram transmitidos semanalmente na televisão e que contavam com o grande apelo do público para se manterem na grade das emissoras. 

“Inúmeras séries de televisão vieram e se foram ao longo dos últimos 65 anos, mas poucas conseguiram ter uma vida profunda e intrigante como Twin Peaks”, descreveu Brad Dukes. 

A série cativava por sua forma única de inserir o surreal de forma gradativa nos cenários já estabelecidos, mesmo nos núcleos mais realistas, já existiam personagens excêntricos e instigantes.  Entre as cenas no restaurante e as conversas entre estudantes, figuras solitárias e curiosamente hipnotizantes surgiam  na tela sorrateiramente, dançando de forma estranha e com diálogos de trás para frente. 

Mas a cereja do bolo da bizarrice apresentava-se em um cenário sinistro, o Black Lodge, um lugar extra-dimensional que parecia ter as respostas para todos os mistérios. 

Muito mais que marcar história na televisão, Twin Peaks, ao longo de suas três temporadas, ensinou que há sempre a possibilidade de explorar nossas perspectivas, construir novas narrativas até mesmo nas premissas mais simples. 

Trabalhar com redação publicitária também é sobre contar histórias, encantar, surpreender e envolver o espectador, como um seriado semanal, que o público religiosamente espera para assistir. 

Referências:

DUKES, Brad. Twin Peaks Arquivos e Memórias. Rio de Janeiro:Darkside Books, 2016.

Ilustração capa: https://dribbble.com/esztersletters

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