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Revival de séries: Godzilla 🐲

Revival de séries: Godzilla 🐲

“Oh no, there goes Tokyo
Go, go, Godzilla
Yeah”

Com origem japonesa, o lagarto gigante é famoso no mundo inteiro.

Há poucos monstros tão icônicos no cinema como Godzilla, desde sua concepção inicial em 1954 até a sua aparição constante nos últimos anos com várias obras japonesas e americanas, o Rei dos Monstros possui uma presença eterna na cultura pop.

Mas o que é o Godzilla?

Um homem numa fantasia de borracha destruindo maquetes de cidades e lutando contra outros homens fantasiados?

Um dinossauro mesclado com outras espécies que foi acordado pelas bombas nucleares?

Um Deus Antigo submerso que veio castigar os humanos pela poluição cometida contra a natureza? 

Uma metáfora sobre os ataques em Hiroshima e Nagasaki e os horrores da guerra nuclear?

A resposta para todas essas perguntas é: SIM.

Ele é tudo isso e muito mais.

A necessidade de monstros 

Desde o início dos tempos, sempre se usou a imagem do monstro como uma metáfora para o que acontecia em determinada época. Um monstro nunca é apenas uma criatura, ele é a representação dos temores e ansiedades de cada período histórico.

  • Para os gregos, era por meio da mitologia, com as hidras, medusas, ciclopes e quimeras.
  • Para a idade média, era por meio da religião, com os dragões, bruxas e demônios.
  • Para séculos mais recentes, são por meio das metáforas, com vampiros, zumbis e monstros gigantes.

A ideia por trás de Godzilla na década de 1950 era combinar o gênero de criaturas gigantes – especialmente o filme “O Monstro do Mar” – com o trauma recente dos ataques nucleares em Hiroshima e Nagasaki (ocorridos em 1945).

Revival de séries: Godzilla 🐲

O filme O Monstro do Mar (1953) foi uma das influências para a criação de Godzilla.

A origem é similar em alguns aspectos, uma criatura pré-histórica que estava submersa no fundo do oceano e é acordada após milhares de anos por ações humanas. 

A ação humana, no caso, foram os testes com bombas nucleares que acordaram a besta.

Gojira e as cicatrizes da guerra

O monstro foi batizado com o nome Gojira, não há exatamente um consenso do que a palavra significa, mas uma das teorias é que seja a mistura das palavras gorira (gorila) e kujira (baleia).

No filme original dirigido por Ishirō Honda em 1954 e produzido pela Toho, o Japão mal está reconstruído após a Segunda Guerra Mundial e já precisa passar por mais um ataque catastrófico na forma de um lagarto gigante atômico. 

As imagens da cidade destruída, as pessoas correndo da devastação, famílias sendo soterradas pelos escombros, e a criatura imponente sobre as chamas evocam uma reflexão que era extremamente poderosa em sua época, uma ferida que mal havia cicatrizado ainda. 

O Godzilla original era um filme bem sombrio.

O próprio design do monstro é diferente do que se esperava na época, Godzilla não é apenas um dinossauro, é uma quimera com diferentes características: 

  • Seu rosto é baseado em dragões japoneses; 
  • Ele é bípede; 
  • Tem placas na coluna como um Estegossauro; 
  • Solta um bafo atômico que derrete tudo que está na sua frente;
  • A textura de sua pele foi inspirada na cicatriz queloide de vítimas da guerra nuclear.

Quando lançado, o filme foi um enorme sucesso no Japão e chamou a atenção no exterior também. 

Eventualmente foi feita uma versão para o público americano, intitulada Godzilla – O Rei dos Monstros (1956), refilmando algumas cenas para inserir um protagonista americano e reutilizando as cenas de destruição do original.

Apesar de ser inferior, é a versão que a maioria do mundo assistiu na época e a que cunhou o nome Godzilla para o ocidente.

Divisão em eras

Para fazer uma divisão bem clara, há cinco eras que caracterizam os vários filmes de Godzilla nos 70 anos de sua história, e elas são nomeadas conforme a era política japonesa (com exceção do Monsterverse) em que esses filmes foram produzidos.:

  • A Era Shōwa (1954-1975) com 15 filmes oficiais.
  • A Era Heisei (1984-1995) com 7 filmes oficiais.
  • A Era Millennium (1999-2004) com 6 filmes oficiais.
  • A Era Reiwa (2016-atual) com 2 filmes oficiais.
  • Monsterverse (2014-atual) com 4 filmes americanos oficiais.

Para não deixar o texto ainda mais extenso, só serão citados os filmes live-action, pois há centenas de animações e spin-offs no mesmo universo.

Era Shōwa – começou a brincadeira

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Com o grande sucesso do primeiro filme, mal se esperou e logo já foi lançado uma sequência no ano seguinte, intitulada Godzilla Raids Again.

O filme reutiliza várias cenas do original na cara de pau para conseguir mais tempo de duração, mas também foi o filme que introduziu um dos elementos mais importantes e recorrentes da franquia, que são os outros monstros.

Nesta sequência, Godzilla luta contra Anguirus, um outro monstro gigante que é uma mistura de tartaruga com tatu-bola. Obviamente, já dá pra perceber que a seriedade do primeiro filme foi abandonada para algo mais galhofa e infantil, mas que também tem o seu charme.

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Godzilla vs Anguirus.

Aqui se inicia duas coisas: uma é a popularização dos filmes Kaiju, um subgênero de ficção científica que é focado na luta de monstros gigantes atacando cidades. Outra foi o início da Era Shōwa na história da franquia.

Curiosamente, o nome de cada era é relacionado ao período político do Japão, essa se refere ao período do domínio do imperador Shōwa  (Hirohito).

Houve 15 filmes oficiais de Godzilla nesse período, que introduziram diversas criaturas que se tornaram bem icônicas, como Mothra, King Ghidorah, Mechagodzilla e o filho do Godzilla.

Vale ressaltar que Godzilla também enfrentou King Kong (que seria o representante do ocidente em questão de monstros gigantes) no filme de 1962 – King Kong vs Godzilla.

Os filmes eram cada vez mais cômicos e após tantas adições na franquia, a marca Godzilla ficou bem desgastada na metade da década de 1970, quando a produção dos sequências foi encerrada por cerca de 9 anos.

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Os filmes de Godzilla perderam totalmente a seriedade, mas ainda ofereceram diversão para o público na época. 

Era Heisei – a época do versus

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Após toda a galhofada dos últimos anos da Era Shōwa, foi decidido renovar o interesse do público pelo Godzilla, dessa vez em um filme mais sério (inspirado no original) e com fantasias melhores.

Lançado em 1984, O Retorno de Godzilla teve reações bem mornas, mas deu pra revitalizar um pouco a imagem do monstro na cultura popular.

Curiosamente, em 1985 houve uma versão modificada para o público ocidental com atores americanos (assim como o original, e provando que as coisas não mudaram muito em 30 anos).

A Era Heisei começa oficialmente em 1989, com a posse do Imperador Akihito no Japão, mas O Retorno de Godzilla é encaixado nessa categoria por ser bem diferente do estilo da Era Shōwa. 

Depois, a partir de 1989, foram lançados mais 6 filmes de Godzilla contra diversos monstros gigantes, alguns já conhecidos e outros novos, como Biollante e Destoroyah. 

Esse período foi muito caracterizado pelos títulos de “versus”, cada filme novo era “Godzilla vs. tal monstro”, e apesar de ainda manter as lutas típicas da Era Shōwa, o clima dos filmes eram mais escuros e sérios, tentando respeitar as origens do personagem.

No último filme, Godzilla vs Destoroyah (1995), o monstro morre no final, o que iniciou um hiato e deu espaço para a versão americana que estava por vir.

Godzilla vs Matthew Broderick

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That’s what she said.

Com o sucesso de Godzilla em sua terra natal, é de se perguntar por que Hollywood não havia feito uma versão própria até então.

A verdade é que houveram várias tentativas de produzir um remake americano de Godzilla (além das versões americanizadas), mas nenhuma foi muito longe na pré-produção.

O primeiro remake ocidental foi realizado apenas em 1998 pela TriStar Pictures, com um orçamento milionário e com a mesma equipe de Independence Day.

A lógica do estúdio é que a equipe responsável por um dos maiores filmes de desastre dos anos 1990 seriam capazes de fazer um ótimo Godzilla.

Mas o filme foi um outro tipo de desastre.

O filme estrelado por Matthew Broderick (de Curtindo a Vida Adoidado) teve uma grande expectativa antes do seu lançamento. Foi feita uma campanha de divulgação praticamente lendária com ótimos trailers, um CD de trilha sonora com grandes artistas (Foo Fighters, Rage Against the Machine, Jamiroquai, só pra citar alguns), brinquedos, cereais e muito mais. 

Como filme, Godzilla (1998) é bem decepcionante, mas seu teaser é um dos melhores de todos os tempos.

O case de publicidade de Godzilla (1998) é a melhor coisa sobre o filme.

Quando lançado em 1998, a repercussão geral é que o filme havia sido uma grande decepção, com um roteiro sem sentido, atuações medíocres, situações ridículas e um Godzilla (a atração principal) muito fraco.

A realidade é que o diretor Roland Emmerich (de Independence Day e Stargate) não era fã da franquia ou do personagem, e teve a ideia de fazer um filme mais tradicional de monstro, em que o Godzilla seria apenas um dinossauro solto em Nova York.

Ele pegou mais inspiração de Jurassic Park (1993) do que os originais japoneses, e o resultado foi um filme que desagradou os fãs ocidentais e principalmente os japoneses.

Uma das piadas mais feitas na época, é que esse filme foi a maior afronta dos Estados Unidos contra o Japão desde a Segunda Guerra Mundial.

Era Millennium – a (breve) vingança do Japão

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A versão americana de Godzilla foi considerada quase como um insulto contra a franquia, que rapidamente decidiu fazer mais filmes para tentar recuperar sua imagem.

Começou então a Era Millennium, em referência a virada do milênio, e com o filme Godzilla 2000, que misturava as fantasias com alguns efeitos especiais digitais.

A Era Millennium teve 6 filmes e é caracterizada por ser uma época de renovação, mas também por ser um tanto bagunçada, com filmes que não seguiam a mesma linha cronológica (apesar de serem lançados anualmente).

A última adição desse período foi Godzilla Final Wars (2004), em que o monstro luta contra o maior número de kaijus já colocado em um filme da franquia (inclusive lutando contra a versão americana).

Godzilla japonês vs Godzilla americano ao som de Nu Metal é o puro suco dos anos 2000 

Final Wars foi o filme de aniversário de 50 anos do personagem, mas fracassou em fazer números nas bilheterias e recebeu críticas bem mistas dos fãs e críticos.  

Logo o monstro voltou para as profundezas por mais 10 anos.

A Era Monsterverse – o universo compartilhado ocidental

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Foram 10 anos sem nenhum filme de Godzilla, o maior período de hiato desde a Era Shōwa, até que Hollywood decidiu fazer uma segunda tentativa de remake, mas dessa vez sob a supervisão da Toho para garantir que o personagem fosse tratado com reverência.

Godzilla teve seu segundo remake em 2014, dirigido por Gareth Edwards e produzido pelo estúdio Legendary Pictures em conjunto com a Toho. 

O filme contou com atores famosos como Bryan Cranston (diretamente do final de Breaking Bad) e Ken Watanabe, e também teve uma ótima campanha de divulgação.

Os trailers americanos de Godzilla costumam ser espetaculares, mesmo que os filmes sejam medianos.

O filme fez um sucesso considerável, mas as reações foram bem mornas, o consenso é que é um filme muito bem dirigido, que respeita o legado do monstro, mas que é medíocre em questão de história, ação e drama.

Vale relembrar que, na época, o Universo Cinematográfico da Marvel fazia números absurdos nas bilheterias do mundo todo, o que mudou muito a lógica de produção de Hollywood, que começou apostar fortemente em filmes que se conectavam em um universo maior.

A ideia foi fazer algo similar com Godzilla, conectando com outros filmes de kaiju e formando um universo próprio. 

Em 2017, a Legendary Pictures lançou Kong – A Ilha da Caveira. O filme trazia conexões com o Godzilla de 2014, e assim começava um novo universo compartilhado de filmes.

Em 2019 foi lançada a sequência, Godzilla: O Rei dos Monstros, novamente com um trailer espetacular e um filme medíocre que teve a mesma reação de público e crítica que o primeiro, exatamente com os mesmos problemas.

Continuando a tradição de ótimos trailers que são melhores que o filme.

Eventualmente, a luta tão esperada entre King Kong e Godzilla ocorreu no filme Godzilla vs Kong (2021), e já há uma sequência pronta para esse ano, chamada “Godzilla e Kong: o Novo Império”.

O filme estreia neste mês no dia 29. 

Apesar de ser indiscutivelmente bem galhofa, pode se dizer que a versão americana moderna é similar a da Era Shōwa, com um tom mais leve e foco nas lutas entre monstros.

Houve também a série recente da Apple TV, intitulada “Monarch: Legado de Monstros”, que expande mais a mitologia desse universo. 

Era Reiwa – reinventado e mais sombrio do que nunca

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Deus nos acuda.

Com o sucesso da versão americana de Godzilla (que possui o aval da Toho), os filmes japoneses do monstro decidiram fazer abordagens diferentes e arriscadas, tratando a franquia com grande respeito e admiração.

A Era Reiwa se refere ao período recente do Japão, com a abdicação do imperador Akihito. Apesar de ter começado em 2019, essa era também categoriza filmes da década de 2010.

Em 2016, o diretor Hideaki Anno (criador do famoso anime Neon Genesis Evangelion) realizou uma reimaginação do primeiro filme, intitulado “Shin Godzilla.”

Inspirado fortemente pelo desastre de Fukushima e a incompetência do governo para resolver a situação, a obra imagina como seria um ataque real de Godzilla na Tóquio moderna, sob o olhar de figuras políticas e da mídia.

Shin Godzilla não é o típico filme de monstro, todas as cenas de ataque são um pesadelo completo, e há um forte foco na parte política e na burocracia que envolve um desastre de grande escala.

O monstro em si não é visto com imponência e força, mas como uma criatura em constante sofrimento, que vai se tornando cada vez mais destrutiva a cada nova fase. 

Toda a questão do monstro como uma metáfora volta brilhantemente com esse filme, que recebeu ótimas críticas e teve um bom retorno de bilheteria.

Apesar de ser um filme interessante, Shin Godzilla talvez seja muito ”estranho” para o público maior, pelo forte tom político da obra e a abordagem não convencional de Anno. 

O filme que conseguiu equilibrar a metáfora dramática com a sensibilidade popular de um filme pipoca viria apenas anos depois, e não de forma americanizada, mas puramente japonesa.

Em 2023, foi lançado o que para muitos é o melhor dos diversos filmes de Godzilla desde 1954:Godzilla Minus One.

O filme misturou o drama com destruição na dosagem certa

Dirigido por Takashi Yamazaki e custando apenas 15 milhões de dólares, Godzilla Minus One se passa logo após o final da Segunda Guerra Mundial, o colocando no mesmo período histórico do primeiro filme, servindo como uma reimaginação do clássico.

A abordagem foi focar no drama dos personagens, o que costuma ser a parte mais chata desses filmes, mas dessa vez com um ótimo roteiro com personagens cativantes e dramas reais.

O monstro aqui é tratado com reverência, mas como uma força invencível que é ao mesmo tempo monumental e assustadora.

Godzilla é o poder nuclear encarnado – uma visão fantástica e mortal.

Essa abordagem se mostrou muito bem sucedida, e fez o filme ser um sucesso entre críticos e público. Atualmente já arrecadou cerca de 98 milhões de dólares pelo mundo, sendo o maior sucesso da franquia japonesa até então.

Recentemente também foi indicado ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais, o único filme na franquia indicado pela Academia.

Um conto de dois Godzillas

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Um monstro, várias encarnações

Atualmente, temos dois Godzillas nos cinemas, o americano e o japonês, e ambos são bem-sucedidos apesar das abordagens serem totalmente diferentes.

É a época mais perfeita para ser fã do personagem, em que conteúdo não falta e há a disponibilidade de uma longa história de filmes, desenhos, quadrinhos e outras incontáveis obras sobre o lagarto atômico.

Seja como metáfora para a guerra ou para desastres naturais, figura que representa o Japão, homem numa fantasia de borracha, dinossauro americano ou encarnação viva do poder nuclear – Godzilla/Gojira tem seu lugar no panteão de grandes monstros da história. 

A icônica música tema de Godzilla

Referências:

https://wikizilla.org/wiki/Main_Page

https://www.youtube.com/@MattDraper

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