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David Bowie – O Camaleão Do Rock

David Bowie - O Camaleão Do Rock

Hoje venho com uma recomendação um pouco diferente do usual aqui do Panda. Não é um livro, filme ou série individual, mas a obra completa de um dos artistas mais influentes de sua geração, o cantor/ator/pintor/produtor e compositor britânico David Bowie. 👨‍🎤👩‍🎤

Considerado uma lenda da música, Bowie é um artista muito famoso por ter uma discografia extremamente variada, passando por vários gêneros diferentes, característica que o rendeu o apelido de “Camaleão do Rock”. 

Diferente de outros artistas que se mantém em apenas um gênero por toda a vida, Bowie sempre experimentava novas sonoridades em cada projeto, e essa eterna evolução não se limitava apenas à música, mas também na personalidade, visual e abordagem de cada novo álbum.

Creio que essa recomendação vale muito a pena, pois apesar de ser um nome famoso, do tipo que todos conhecem ao menos uma música ou outra, a sua contribuição para o mundo ainda me parece um pouco subestimada.

Vou falar sobre a carreira de Bowie de forma resumida e as minhas recomendações, além disso, montei uma playlist cuidadosamente curada com suas principais músicas, tanto os hits quanto as mais subestimadas da sua carreira (na minha opinião, é claro).

Ground Control to Major Tom

Há várias características que já chamam a atenção sobre Bowie apenas em sua aparência, como sua pele bem pálida e magra, o cabelo ruivo e o olho esquerdo com a pupila dilatada. 

Essa última característica ocorreu devido a uma briga que ele teve na adolescência. Bowie levou um soco no olho esquerdo que teve um dano permanente, sua pupila ficou fixamente dilatada, dando a impressão de heterocromia.

Essa aparência naturalmente “exótica” de Bowie é algo que ajudou a chamar a atenção do público, especialmente na construção de personagens que ele viria a adotar em sua carreira.

O jovem David Robert Jones, nasceu em Brixton, Londres, no dia 8 de janeiro de 1947. Durante a infância e adolescência, era grande fã de Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard, que o influenciaram a ter interesse em Rock e a buscar uma carreira no mundo da música.

Ele acabou adotando o nome artístico David Bowie, para não ser confundido com o cantor Davy Jones, da banda The Monkees.

Bowie lançou seu primeiro álbum em 1967 com grande foco em música folk, mas o trabalho teve pouca repercussão. Apesar de ser meio que um “patinho feio” na discografia geral, já é possível ver o talento de Bowie na composição desse álbum, com a ideia de contar histórias por meio das músicas.

1969, ano em que o homem pôs os pés na lua pela primeira vez, também foi o ano em que Bowie lançou seu segundo disco. 

Fortemente influenciado pelos acontecimentos da época, Bowie criou o personagem Major Tom na música Space Oddity, que se tornou seu primeiro grande sucesso.

For here i am sitting in a tin can, far above the world

Is There Life on Mars?

Essa criação de personagens nas performances de Bowie é algo que vai se tornar muito comum em sua jornada, digamos que ele tem suas “eras”, nem sempre com um personagem propriamente dito, mas com uma ideia ou conceito que é comum a determinada época de sua carreira.

Em 1970 foi lançado The Man Who Sold The World, que continha mais elementos de Hard Rock e contava com um Bowie extremamente andrógeno, com cabelo grande e de vestido. Apesar de ser um ótimo e influente álbum (com vários covers famosos da faixa-título anos depois), o disco não fez muito sucesso em sua época.

O mesmo ocorreu com Hunky Dory (1971), que vendeu ainda menos que The Man Who Sold the World, mesmo sendo melhor em qualidade e contando com músicas fenomenais como Changes, Oh! You Pretty Things e especialmente Life on Mars.

He’s in the best-selling show

Bowie temia ser visto como um “one-hit wonder” (artistas conhecidos por apenas uma música), afinal seu único sucesso foi Space Oddity até então.

Ele então decidiu criar um novo personagem com uma temática espacial, algo que iria guinar sua carreira de volta ao estrelato.

There is a Starman, Waiting in the Sky

Talvez você conheça esse ritmo pelo cover brasileiro da banda Nenhum de Nós, intitulado Astronauta de Mármore

Em 1972, Bowie lançou The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars, seu álbum de maior sucesso até então, que iniciou sua fase de Glam Rock – um gênero que mistura Hard Rock com visuais andrógenos e teatralidade nos shows – algo que iria inspirar incontáveis bandas pelo resto dos anos 70 e 80.

Bowie iniciou uma longa turnê que é lembrada como lendária até hoje, e teve seu maior sucesso desde Space Oddity.

Apesar de ter sido uma grande vitória, Bowie não estava contente em apenas manter a mesma persona, e logo matou o personagem (e a banda) para surgir como outra personalidade no álbum seguinte, chamado Aladdin Sane.

Lançado em 1973, Aladdin Sane é um pouco mais pesado e experimental que Ziggy Stardust, mas é mais famoso por sua capa, em que Bowie tem um raio pintado em seu rosto, essa imagem entraria para sempre no imaginário da cultura pop, sendo usada depois por outros artistas, como Lady Gaga no videoclipe de Just Dance.

Ainda em 1973, Bowie lançou uma coletânea de covers de músicas que o inspiraram, chamada Pin Ups.

Continuando sua fase Glam, Bowie criou o personagem Halloween Jack para seu próximo álbum, intitulado Diamond Dogs (1974). Originalmente, o conceito do álbum era ser uma adaptação musical do livro 1984, de George Orwell, mas os direitos autorais lhe foram negados.

Então, Diamond Dogs é um disco meio híbrido entre músicas Glam Rock e algumas faixas sobre 1984 que ele já havia composto.

She’s not sure if you’re a boy or a girl

Vale dizer que as músicas sobre 1984 tinham uma influência forte de Soul e Disco, algo que indicaria a próxima fase de Bowie.

Fame Makes a Man Take Things Over

Se você jogou GTA San Andreas, você provavelmente já ouviu essa música

Cansado de sua fase Glam, Bowie criou interesse em Soul e Disco, gêneros mais associados a artistas negros e, apesar de receber críticas de apropriação cultural, ele decidiu lançar seu próximo álbum inspirado nesses gêneros.

Em 1975, foi lançado Young Americans, em que Bowie assumiu a persona de The Soul Man, personagem que ele já havia criado nas turnês anteriores, mas que ganhou protagonismo nessa fase.

Young Americans conta com participações de Luther Vandross e John Lennon. A música Fame foi co-escrita por Lennon e se tornou o maior sucesso do álbum.

It’s Not the Side-Effects of The Cocaine

Se você achava que as coisas estavam estranhas até agora, você não viu nada ainda.

Vivendo na fama, Bowie acabou tendo os dias mais escuros de sua vida, com um vício debilitante em cocaína. Sua nova persona acabou adotando as características mais sombrias que vieram com o vício.

Ele então introduziu o seu personagem mais polêmico até então, chamado The Thin White Duke, que é basicamente um duque supremacista, aristocrata e fascista.

Com essa mudança veio o álbum Station to Station, gravado em Los Angeles em 1976. 

Essa fase divide opiniões entre fãs, por um lado, Station to Station é considerado um dos melhores álbuns que Bowie já fez, pois consegue misturar bem experimentação com a música popular da época, mas, por outro lado, Bowie fez diversas declarações fascistas e elogiou figuras como Adolf Hitler.

Pode-se dizer que era apenas o personagem que ele estava interpretando, mas também foi uma forma um tanto barata de chocar e chamar mais atenção para o álbum. 

A Trilogia de Berlim

A fim de se livrar de seu vício, Bowie passou por um período de recuperação. Ele foi para Berlim, na Alemanha, onde ficou entre 1976 a 1978.

Nesse período, Bowie ficou encantado pelo gênero krautrock, usado para descrever o som de bandas alemãs que misturavam rock com elementos eletrônicos, como Kraftwerk e Tangerine Dream.

Bowie se uniu ao músico Brian Eno, famoso pelo gênero de música-ambiente, para essa fase que se mostrava mais experimental.

O primeiro disco dessa trilogia foi Low, lançado em janeiro de 1977, com o lado A focado em músicas mais tradicionais (com elementos de krautrock) e o lado B totalmente instrumental.

O segundo disco da trilogia veio no mesmo ano. Em outubro de 1977 foi lançado Heroes, com a mesma estrutura de Low, e com participação do guitarrista Robert Fripp, da banda King Crimson.

A música mais famosa foi a homônima Heroes, considerada por muitos fãs como a melhor composição do artista.

We can be heroes, just for one day

O terceiro disco foi Lodger (1979), que ficou meio apagado em comparação com os dois primeiros, mas que serviu para Bowie voltar para uma sensibilidade mais pop.

Apagando o incêndio (com gasolina)

No início da década de 1980, Bowie como um visionário nato, previu que a música seguiria por um lado mais eletrônico, com forte uso de sintetizadores. 

Seu próximo álbum, Scary Monsters (And Super Creeps), já incorpora esses elementos que seriam tão comuns pela década.

Vale uma menção especial para a música Ashes to Ashes, que faz uma interessante menção ao seu primeiro personagem, Major Tom, em paralelo ao contexto de seu vício em drogas e dos anos em Berlim.

We know Major Tom’s a junkie; Strung out in heaven’s high; Hitting an all-time low

Vale também mencionar sua participação na música Under Pressure, do Queen, que talvez seja a faixa mais famosa com a presença de Bowie.

Impossível alguém no mundo não ter ouvido essa antes

Os anos 1980 foram sua época mais bem sucedida, mas também foi a era mais odiada pelos críticos, porque muitos julgaram que o artista “se vendeu” para a música pop do período.

Em 1983, ele se juntou com Nile Rodgers (da banda Chic) para produzir seu álbum, Let’s Dance, que marcou o pico de seu sucesso comercial.

Além disso, a MTV crescia rapidamente na época e os videoclipes do artista ganharam muita popularidade, especialmente a faixa-título.

Put on your red shoes and dance the blues

Let’s Dance teve vários singles de sucesso, como China Girl, Modern Love e Cat People (Putting Out Fire).

Let’s Dance é bem divisivo em sua carreira, alguns apenas o consideram extremamente datado, enquanto outros o consideram um ótimo álbum que mistura as melhores qualidades de Bowie com o que era popular na época (estou nesse segundo grupo).

Mas o mesmo não pode ser dito sobre o restante da década.

O disco seguinte, Tonight, foi lançado em 1984, e com exceção das ótimas Loving The Alien e Blue Jean, é bem esquecível. 

Bowie não tinha material o suficiente para um álbum, mas a pressão da gravadora para lançar um sucesso tão grande quanto Let’s Dance o fez ceder e ele lançou um disco em que a maioria das faixas são covers de outros artistas, alguns dos quais ele já havia trabalhado junto, como Iggy Pop.

Nesse meio tempo, ele também atuou como o personagem Goblin King, no filme de fantasia Labirinto (dirigido pelo criador dos Muppets, Jim Henson, e com produção de George Lucas). O filme o introduziu a uma nova geração de crianças e jovens da época.

Já em 1987, Bowie lançou Never Let Me Down, que buscava misturar o Pop dos anos 80 com o Hard Rock dos anos 1970, mas acabou não agradando fãs de nenhuma das fases. 

No final da década de 1980 e início dos anos 1990, Bowie se uniu com uma banda, chamada Tin Machine e lançou dois discos com uma vibe mais Hard Rock com uma pegada experimental, mas ambos também falharam em agradar críticos e fãs.

Funny How Secrets Travel

Na década de 1990, após anos de decepções, Bowie decidiu experimentar com o que ele achava interessante na época, seja em um pop eletrônico de Black Tie, White Noise (1993) ou no rock industrial e experimental de 1. Outside (1995) e Earthling (1997).

David Bowie + Nine Inch Nails era a fusão mais óbvia que poderia acontecer na época

Bowie lançou a trilha sonora de um livro chamado Buddha of Suburbia em 1993, que muitos questionam se merece ser incluído oficialmente em sua discografia.

Já nos anos 2000, o artista também lançou os discos …Hours (1999), Heathen (2002) e seu (até então) último trabalho, Reality, em 2003.

No geral, admito que é a época que menos conheço do artista e acho que não vale muito a pena se aprofundar nela, apesar de ainda ter ótimas músicas nesse período (que estão na playlist que montei).

Vale mencionar que Bowie sofreu uma séria obstrução de artéria durante a turnê de Reality e teve que passar por uma cirurgia cardíaca. A partir deste momento ele decidiu não subir mais aos palcos. 

Golden Years 

Os dois últimos álbuns de Bowie são interessantes como conclusão de sua carreira.

Em 2013, ele lançou The Next Day, meio que de surpresa, pois muitos pensavam que o artista já havia se aposentado.

Esse disco serve quase como um “Best of” de sua carreira, aqui temos músicas inspiradas em todas as suas fases, desde as faixas mais artísticas e experimentais quanto ao Glam Rock mais agitado. 

Simplesmente voltou como se nunca tivesse saído

O álbum recebeu reações bem positivas e foi considerado o melhor de Bowie em décadas, mostrando que ele ainda tinha muito a oferecer.

Porém, Bowie foi diagnosticado com câncer de fígado em 2015, algo que ele manteve em segredo até o final da vida, e gravou seu último disco com o tema de aceitar sua mortalidade.

Blackstar foi lançado em 8 de janeiro de 2016, exatamente no dia de seu aniversário de 69 anos e, apenas dois dias depois, Bowie veio a falecer pela doença.

O álbum serve como o capítulo final da longa jornada de Bowie na história da música. 

O adeus de David Bowie

Loving the Alien

Eu poderia escrever análises da discografia de Bowie pelo resto da minha vida e ainda não seria o suficiente para cobrir ou entender tudo.

Por isso ele é um artista tão rico de conteúdo, é possível analisar várias facetas de seu legado, a influência que ele teve em milhares de artistas que se seguiram, ou o modo como ele sempre estava um passo à frente nas tendências da música (possivelmente porque ele ajudou a criar essas tendências).

E nem cheguei a me aprofundar em sua carreira como ator, em filmes como Fome de Viver (1983), Labirinto (1986), Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992) e O Grande Truque (2006), só para citar alguns. 

Ou os numerosos cameos dele em filmes, desenhos, comerciais e até mesmo videogames.

Alguém aí já ouviu falar de Omikron: The Nomad Soul, jogo do Dreamcast de 1999?

O homem simplesmente não conhecia o conceito de folga. 

Realmente temos a impressão que ele foi um alienígena que caiu na terra, revolucionou a música como conhecemos e deixou uma influência que permanece forte na cultura pop.

Segue minha playlist cuidadosamente curada (e não de um algoritmo). Inclusive adicionei alguns covers notáveis, só para ressaltar o quão influente ele foi.

Álbuns recomendados (os obrigatórios): Hunky Dory (1971); The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars (1972); Aladdin Sane (1973); Diamond Dogs (1974); Young Americans (1975); Station to Station (1976); Low (1977); Heroes (1977); Let’s Dance (1983); The Next Day (2013) e Blackstar (2016).

Os subestimados (pra quem já é fã): David Bowie/Space Oddity (1969); The Man Who Sold The World (1970); Pin Ups (1973); Lodger (1979); Black Tie, White Noise (1993); 1.Outside (1995); Earthling (1997); Heathen (2002) e Reality (2003).

Se quiser se arriscar (só para quem é MUITO fã)Tonight (1984); Labyrinth (1985); Never Let Me Down (1987); Tin Machine I (1989); Tin Machine II (1991); Buddha of Suburbia (1993) e Hours…(1999).

Fontes:

https://www.ebiografia.com/david_bowie/

https://david-bowie.fandom.com/wiki/David_Bowie

https://www.youtube.com/@MicTheSnare

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