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PERSONA 5: Como o design criativo revitalizou um gênero defasado de games

“You’ll never see it coming”

Diz o refrão da música “Last Surprise”, tema de batalha do RPG Persona 5, lançado pela Atlus em 2017. Ao ouvir essa faixa, percebe-se que não é o tipo comum de música de combate, ela tem uma vibe meio Jazz e Pop que se diferencia muito do que é comum ao gênero (orquestras com um tema medieval).

É justamente esse tipo de detalhe que fez “Persona 5” ser um dos jogos mais aclamados da década de 2010. Mas antes de se aprofundar nas características que o tornam único, bora trazer um pouco de contexto. 

“Persona” é um spin-off da franquia “Shin Megami Tensei”, presente na cultura gamer desde os anos de 1980. Os jogos são RPGs de turno com uma temática mitológica e sobrenatural. Explicando de forma bem básica, é como um “Pokémon”, mas ao invés de colecionar animais superpoderosos, você coleciona entidades como deuses, demônios e figuras folclóricas de todo o mundo.

Por exemplo, você pode “invocar” Zeus, Thor, Loki, Jack Frost, Shiva e Anúbis para lutarem por você, só para citar alguns exemplos. Essas seriam as “Personas” que os personagens usam.

O conceito da série “Persona” é colocar essa ideia em um cenário escolar adolescente, em que as lutas sobrenaturais são feitas em mundo paralelo, e são intercaladas pela vida social do seu personagem no mundo real. Ou seja, além da questão fantástica, também é preciso fazer conexões, sair com amigos, estudar, ir ao trabalho, entre outras tarefas cotidianas. 

Subir de nível em “Persona” vai muito além do combate, é necessário dar level em características como charme, coragem, proficiência e inteligência para administrar a vida pessoal do seu personagem, torná-lo mais experiente como um ser humano.

Os dois primeiros “Persona” foram lançados para o Playstation original (PS1). Mas a série realmente ganhou reconhecimento com o terceiro jogo, “Shin Megami Tensei: Persona 3”, lançado em 2006 para PS2. Esse foi o jogo que estabeleceu as mecânicas que iriam se seguir até o quinto jogo.

Foram 8 anos de espera entre Persona 4 e 5, sendo um dos jogos mais aguardados pelos fãs de RPGs Japoneses. Quando lançado, o game se tornou um grande sucesso, recebeu diversas notas máximas pela crítica e é tido, hoje em dia, como um dos melhores RPGs da história.

Mas o que fez o jogo ser tão bem-sucedido?

Vale dizer que o gênero de JPRG (RPG Japonês) estava bem defasado nos anos 2010. Esse tipo de game é bem lento e restrito em comparação com outros RPGs, focando fortemente em cutscenes e combates por turno, em que se preza mais pela estratégia do que a diversão.

Houve uma época em que os JPRGs dominavam o mercado, com a franquia “Final Fantasy” sendo a mais famosa. Mas com a chegada de jogos como “The Elder Scrolls V: Skyrim” e “The Witcher 3: Wild Hunt”, que contavam com grande customização e liberdade de escolha, parecia haver pouco interesse nos velhos JRPGs e todas as suas limitações.

Então entra “Persona 5”, que contém todas essas características limitadoras (uns 60% do jogo são cutscenes), com o combate por turnos que não chamava mais a atenção do público. Como diabos ele conseguiu tanto sucesso?

A fórmula secreta é bem simples, na verdade. O fator que torna “Persona 5” tão único é o seu design criativo e chamativo.

A atenção em cada detalhe

Em muitos jogos atuais, pouca atenção se dá ao HUD (Heads-up Display), ao UX (User Experience) e UI (User Interface). Muitas vezes é a coisa mais básica possível, sem nenhuma personalidade, e até jogos bilionários são culpados de cometer esse erro algumas vezes.

Quando você joga “Persona 5”, é possível ver todo o esmero possível em cada tela. Todos os menus são belos, cada opção tem uma animação estilosa e divertida. 

Toda a identidade visual do game é tão forte e tão sólida, que deveria ser mostrada como um exemplo em escolas de design.  

Esse esmero não está restrito apenas à sua apresentação, mas está em todos os aspectos do game. A trilha sonora é composta por Jazz e Pop, então o design segue uma linha mais solta e rebelde (que remete a improvisação do Jazz), com cores fortes como vermelho, preto e branco. 

O combate por turnos é extremamente rápido e dinâmico. Cada elemento do HUD informa suas funções de forma clara e intuitiva. Não há um pingo sequer de preguiça por parte dos desenvolvedores. 

Muito além de sua história e conceito, “Persona 5” é um jogo cheio de personalidade. Foi isso que chamou a atenção de um público que nem se interessava mais por esse estilo de game.

A lição que podemos aprender é que mesmo em um cenário defasado, basta esforço e esmero com os detalhes de seu produto para chamar a atenção do público de volta. Além de uma identidade visual forte e uma personalidade chamativa e bem definida.

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