Rihanna era uma novata, Beyoncé engatinhava solo e as boybands estavam em alta. No camelódromo da praia (e no meu porta-cds do RBD), todas as edições do Summer Eletrohits faziam sucesso. 2000 tinha começado, o Brasil descobria o Grande Irmão, eu aprendia o bê-á-bá e a vida era simples. O acesso à música? Nem tanto.
Aí veio o iTunes, e os discos e fitas K7 viraram itens de colecionador. Em 2006, o Spotify dizia “olá”, numa clara tentativa da indústria de se adaptar ao cenário.
Mas novas formas de consumo e maior autonomia por parte do consumidor não são novidades. O que distingue a vida antes e depois do streaming vai além do formato porque também é sobre o que se consome.
E se os astros e estrelas que você descobria nos anos 80 ou 90 eram indicações de amigos, sucessos na rádio ou figurões estrelando clipes na MTV, agora o melhor lugar do mundo para encontrar hits é o TikTok – a marca que mais cresce no mundo hoje em dia.[1]
Mas qual é o real impacto da plataforma no que tange rentabilidade, paradas de sucesso e a indústria a nível mundial?
Foi pensando nisso que eu comecei a fazer algumas pesquisas e…
ACONTECE QUE TUDO ESTÁ MEIO ENTRELAÇADO NESSA TEIA
O consumo de músicas aumentou em períodos de isolamento, as dancinhas e challenges do TikTok ganharam espaço e áudios foram se popularizando. Quanto mais compartilhados eles eram, maior era a chance dos usuários, que faziam uso deles serem beneficiados pelo algoritmo.
Popularidade em uma plataforma desencadeia entrega de conteúdo, entrega de conteúdo significa bom desempenho e inspira engajamento, e engajamento é a moeda mais valiosa que existe no momento. O resto você já sabe. Uma plataforma leva à outra.
Ranking com as 10 faixas que mais bombaram na plataforma durante 2021. (Fonte: TikTok)
A VIDA ÚTIL DE UM HIT
Desde o surgimento, os charts sempre foram um termômetro para medir desempenhos, feitos e a ascensão de artistas. Com o passar do tempo, eles também se tornaram unidade de medida para mensurar a relevância e a sobrevivência de canções num cenário competitivo e volúvel.
Mas o TikTok parece decidido a bagunçar uma ordem cronológica natural e beber da fonte da nostalgia, sem se limitar aos lançamentos do presente.
Acontece que as métricas usadas nos charts são complexos cálculos e comparativos. Com velhos sucessos reaparecendo nas tendências, sendo muitas delas influenciadas pelo desempenho nas redes sociais, é comum ver músicas recém-saídas do forno dividindo espaço com clássicos como “Billie Jean” (1982), de Michael Jackson, e “Smells Like Teen Spirit” (1991), do Nirvana.[2]
Corroborando, hits antigos de roupagem atualizada fundem o culto à nostalgia e a adaptação do conceito de releitura, musicalmente representada pelos covers. Desta soma, florescem sucessos estrondosos do passado na voz de jovens intérpretes, e a popularização de artistas até então não tão conhecidos do grande público também se faz realidade.
PRECISAMOS FALAR DESTE CHICLETE SONORO CHAMADO BEGGIN’
O TikTok quando te flagra cantarolando uma das músicas virais dele… o dia todo, SEM PARAR. (Fonte: Tumblr)
Você já escutou ela antes. E duvido que vá parar de escutar tão cedo.
A canção original pertence ao The Four Seasons, emplacou nas paradas há mais de cinco décadas e rendeu duas “variantes” conhecidas: uma em 2007, lançada pelo duo norueguês Madcon, e a outra apresentada pela banda Måneskin no The X Factor Itália, em 2017.
Eis que quatro longos anos se passaram desde então, e de forma espontânea este cover emplacou, virou febre e embalou cerca de 9.9 milhões de vídeos[3] no TikTok.
Como isso rolou? Nem o grupo sabe ao certo.
O que se sabe é que a faixa integra o primeiro EP gravado pelo Måneskin e foi desenterrada na web. Hitou, rendeu 24 milhões de ouvintes curtindo a discografia dos caras no Spotify, e de ex-artistas de rua em Roma e estrelas em ascensão na Europa, eles se tornaram peça-chave de um movimento que trouxe o Rock de volta ao topo da cadeia alimentar.
2022: O QUE NOS APONTAM AS TENDÊNCIAS?
Segundo a Viberate, uma das plataformas especializadas que analisa o mundo da música, este ano vai reforçar algo que os profissionais de Marketing já tinham sacado: o uso do TikTok como alavanca na carreira de artistas e a maior valorização do multiplataforma.
Por essas e outras, aí vão 03 apostas brabas para os próximos meses:
O hacker que invadiu meu celular vendo todos os 1234 vídeos de dancinha que eu gravei e nunca postei porque eram ridículos. (Fonte: WeHeartIt)
FONTES:
DA ROSA, Gabriela. A influência do Tiktok nos Charts: Uma análise do desempenho da canção drivers license. UPF, 2021. Acesso em 13 de fev. de 2022.
Year onTIKTOK, 2021. Disponível em: <https://www.tiktok.com/year-on-tiktok/pt-br/>. Acesso em 20 de fev. de 2022.
2022 State of Music by VIBERATE. Disponível em: <https://report.viberate.com/>. Acesso em 19 de fev. de 2022.
ESTUDO indica que Måneskin e TikTok popularizaram o Rock para as novas gerações. Tenho Mais Discos Que Amigos (TMDQA). Disponível em: <https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2022/02/02/estudo-maneskin-tiktok-interesse-rock/>. Acesso em 14 de fev. de 2022.
LLORCA, Paula Palomero. La influencia del uso de temas musicales en TikTok, sobre el éxito de los mismos en la plataforma Spotify y en la lista de éxitos Billboard, en Estados Unidos. Disponível em: <http://repositori.uji.es/xmlui/handle/10234/195234>. Acesso em 15 de fev. de 2022.
CHOW, Andrew. The Breakout Musical Stars of TikTok in 2021. TIME, Nova Iorque. Disponível em:<https://time.com/6130707/tiktok-music-2021/>.Acesso em 10 de fev. de 2022.
[1] Baseada em uma pesquisa divulgada pela Brand Finance, que evidenciou um crescimento de 215% no valor da plataforma dentro do período de um ano.
[2] Ambas as canções citadas integravam o Billboard Global 200 em fevereiro de 2022, no momento em que este texto foi redigido.
[3] Número verificado em 20 de fevereiro de 2022.