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Rebranding: O Massacre da Serra Elétrica

O que aconteceu é verdade…

A série de crimes mais bizarros e brutais da América.

Trailer do Massacre da Serra Elétrica original.

De tempos em tempos, é lançado um filme que desafia todas as regras do que antes eram estabelecidas como o padrão. 

O Massacre da Serra Elétrica (1974) mostrava um tipo de horror nunca antes experienciado no cinema norte-americano, que teve uma reação visceral do público e mudou para sempre o gênero.

Mas é preciso entender o contexto em que o filme foi lançado, e como as sequências foram sempre um reflexo do que ocorria no cinema (e no momento histórico) de cada iteração. Dessa forma, conseguimos entender o porquê do rebranding.

1970 – A era dos Serial Killers

No caso do cinema de terror, podemos notar uma grande diferença entre o gênero nas décadas de 1940 e 1950, em comparação com os filmes de 1960 e 1970.

Na década de 1940, o gênero de horror ainda apostava em histórias góticas e clássicas, com criaturas míticas como Drácula, o Lobisomem, a Múmia e o monstro de Frankenstein ganhando filmes. 

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Drácula de 1931, estrelado pelo icônico Bela Lugosi

Já nos anos 1950, os olhos (e o medo) dos espectadores se voltam para os céus e o desconhecido, com filmes de invasões alienígenas e um terror mais voltado a ficção científica, provavelmente um reflexo do caso Roswell em 1947 (em que um OVNI supostamente caiu no Novo México, EUA). 

Nos anos 1960, com o lançamento estrondoso do clássico Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, o medo do público não mais foi dominado por monstros ou alienígenas, mas sim pelo medo do próprio ser humano e suas complexidades macabras.

O contexto histórico de “Massacre da Serra Elétrica” foi o mesmo do final da guerra do Vietnã, e a onda de assassinos em série nos EUA, com nomes como Ted Bundy, Assassino do Zodíaco, Charles Manson e muitos outros aparecendo nos jornais diariamente nas décadas de 1960 e 70. 

Logo, os monstros que realmente assustavam o público eram reais, e isso se refletiu no cinema, principalmente em uma tolerância maior do público com o macabro e a violência gráfica, pois eles provavelmente viram coisas muito piores nos noticiários. 

Foi com esse conceito que o primeiro Massacre da Serra Elétrica foi produzido em 1974. 

Massacre da Serra Elétrica – Baseado em “fatos reais”

Utilizando de uma meia verdade para promover o filme, a tagline dizia que a história era baseada em fatos reais, mas, na verdade, o filme pegou várias histórias reais e as misturou para formar a trama. 

Por exemplo, o vilão icônico da franquia, “Leatherface” é inspirado no serial killer Ed Gein, que costumava usar as peles das vítimas como vestido. Já no caso do vilão, ele usa a pele esfolada das vítimas por cima do rosto, como uma máscara. 

Ou seja, ele é, sim, inspirado num assassino real, mas as veracidades da trama param por aí.

De qualquer forma, a tagline deu certo para promover o filme, muitos acreditaram que o caso dos assassinatos mostrados no filme realmente ocorreram, e foram uma ótima publicidade para atrair espectadores curiosos (não havia internet na época para averiguar os fatos).

O interessante desse primeiro filme é o quanto ele trabalha com a sugestão da violência. Tecnicamente, há pouquíssimo sangue mostrado na tela, todas as mortes são escondidas pela câmera e apenas um dos personagens é, de fato, morto por uma motosserra.

Mas a atmosfera do filme é tão opressora, tão agressiva e sufocante, que a impressão que fica é a de ter visto um dos filmes mais perturbadores de sua época. 

O filme foi um grande sucesso, tendo custado apenas $140 mil, faturou $30 milhões apenas em seu ano de estreia, sendo um dos filmes independentes mais lucrativos da história.

Também foi alvo de várias polêmicas, proibido em diversos países, incluindo o Brasil.

A influência de O Massacre da Serra Elétrica pode ser sentida até hoje, seja em filmes slasher como Halloween (1978) e Sexta-Feira 13 (1980), ou até em obras mais recentes como X – A Marca da Morte (2022) e o game Resident Evil VII (2017).

O game Resident Evil VII traz diversas referências ao Massacre da Serra Elétrica original.

Massacre da Serra Elétrica 2 – The buzz is back

Diferente de praticamente todas as franquias de horror, levaram-se anos para um novo Massacre da Serra Elétrica ser lançado. Foram mais de 10 anos até que o diretor do primeiro filme, Tobe Hooper, decidisse continuar a franquia.

Hooper havia recém dirigido o sucesso Poltergeist – O Fenômeno (1982), e já tinha uma carreira bem estabelecida. Vendo que a cada ano as franquias de terror iam ganhando mais filmes, ele decidiu fazer uma sequência do original, porque tinha certeza que se não fosse ele, outra pessoa faria.

Mas além de dar continuidade na história, Hooper queria fazer também um comentário sobre o estado do gênero de terror na época. Logo, O Massacre da Serra Elétrica 2 conta com mais sangue, mais gore (violência explícita), e mais humor.

Até mesmo o pôster do filme faz uma piada com o pôster de O Clube dos Cinco (1985) de John Hughes, filme popular da época.

O pôster já entregava que havia mais humor na sequência.

Isso deu uma pegada mais “trash” para o filme, a obra ainda tem momentos perturbadores e uma direção forte de Hooper, mas a mistura entre terror e comédia desagradou muitos críticos e fãs na época.

Não foi um grande sucesso também, custou 4,7 milhões de dólares e faturou apenas 8 milhões em retorno, apesar de ter sobrevivido bem com a venda de VHS.

Massacre da Serra Elétrica 3 – De volta ao terror.

O teaser foi provavelmente a coisa mais criativa do filme.

A história por trás do terceiro filme é, de certa forma, mais interessante do que o filme em si.

O que acontece é que os direitos da franquia foram comprados pela New Line Cinema, que continha em seu repertório os personagens Freddy Krueger (de A Hora do Pesadelo), e Jason Vorhees (de Sexta-Feira 13), o que fazia o estúdio ter os principais ícones do terror slasher da época (com exceção de Michael Myers de Halloween).

Com os direitos adquiridos, o estúdio correu para que o filme fosse feito rapidamente e chamou diversos nomes aclamados, como Sam Raimi (de A Morte do Demônio e a trilogia Homem-Aranha), e Peter Jackson (de Fome Animal e a trilogia O Senhor dos Anéis), mas todos recusaram fazer parte da produção, até chegar no diretor Jeff Burr, que aceitou a tarefa. De acordo com rumores, ele era o número 50 na lista de diretores chamados para dirigir o filme.

Não foi um bom começo.

E o resultado ficou aquém, O Massacre da Serra Elétrica 3: Leatherface procurou voltar a ser um terror mais sério, mas o filme apenas se tornou um slasher genérico de sua época. 

Talvez a coisa mais memorável do filme seja o papel de Viggo Mortensen antes da fama que viria conquistar dez anos depois, com o personagem Aragorn de O Senhor dos Anéis.

Todo mundo precisa começar de algum lugar, afinal.

O Massacre da Serra Elétrica 4: Uma Nova Geração?

O terceiro filme foi um fracasso, mas isso não impediu a New Line Cinema de tentar mais uma vez.

Vale dizer que, diferente de várias franquias que costumamos falar nesse quadro, filmes de terror costumam ser mais baratos, o que faz mesmo um lucro pequeno ser visto como uma boa coisa.

Dessa vez, o roteirista do filme original, Kim Henkel, foi chamado para dirigir o filme, e o objetivo era renovar a cara da franquia, com um elenco mais novo, mas com algumas ligações ao filme original.

Assim como o caso de Viggo Mortensen no terceiro filme, O Massacre da Serra Elétrica 4: O Retorno (1995) conta com duas estrelas de Hollywood em seus primeiros papéis, Renée Zellweger como a protagonista e Matthew McConaughey como um dos vilões.

Apesar de ser uma interessante anedota na carreira desses atores, a verdade é que o quarto filme é considerado não apenas um dos piores filmes da franquia, mas também é um dos piores filmes já feitos.

O filme possui um roteiro bizarro, cenas aleatórias e surreais, uma conspiração de ficção científica jogada no meio da trama, e uma direção extremamente amadora.

Muitos se perguntam se o objetivo de Henkel (o diretor) não era simplesmente afundar a franquia de uma vez por todas, e por alguns anos, foi exatamente isso que ocorreu.

REMAKES E REBOOTS

O remake se tornou o filme mais bem-sucedido da franquia (financeiramente).

Após os fracassos contínuos desde o segundo filme, a ideia agora foi abandonar qualquer trama de sequência, e fazer um remake do filme original. 

O estúdio Platinum Dunes adquiriu os direitos da franquia e decidiu fazer uma nova versão do primeiro filme. Dirigido por Marcus Nispel, o remake de O Massacre da Serra Elétrica foi lançado em 2003 e foi o primeiro sucesso da franquia desde o primeiro em 1974.

Com um elenco mais conhecido, com Jessica Biel como protagonista e o ator R. Lee Ermey (famoso pelo filme Nascido Para Matar) como um dos principais vilões. O filme recebeu críticas mais favoráveis (ainda que medianas) e foi o maior sucesso da franquia, arrecadando cerca de $80 milhões.

Com o sucesso do remake, logo se imaginou uma sequência, dessa vez uma história de origem para o vilão Leatherface.

O Massacre da Serra Elétrica: O Início foi lançado em 2006, com críticas bem negativas e uma bilheteria relativamente boa, mas não o suficiente para continuar. 

Apesar de ter um bom orçamento, o filme não tinha um pingo de criatividade e mostrou uma história já batida que pouco convenceu o público.

Passaram-se mais vários anos, até que a franquia foi revivida mais uma vez, com o filme Massacre da Serra Elétrica 3D, lançado em 2013. Tentando surfar na onda de filmes 3D pós-Avatar, o filme é uma sequência direta do original (assim como o quarto).

As críticas foram péssimas e a bilheteria mediana. Como um filme ruim para rir, ele até diverte, mas não foi o retorno que esperavam.

O filme de 2013 tentou surfar na popularização do cinema 3D.

Não contente com o fracasso anterior, houve mais uma tentativa de história de origem, no filme Massacre no Texas, lançado em 2016. Esse foi lançado diretamente para Home Video e pouquíssimas pessoas assistiram, mas também teve péssimas críticas e uma bilheteria inexistente.

Mas a esperança é a última que morre.

Em 2022, surfando no sucesso de franquias de terror revividas que tiveram sucesso, como Halloween (2018) e Pânico (2022), O Massacre da Serra Elétrica recebeu um novo filme, dessa vez pela Netflix, que procurava ser uma sequência direta do original (assim como o quatro e o 3D).

Dessa vez houve um bom orçamento e boa divulgação, mas mesmo assim, o resultado foi péssimo mais uma vez. O novo filme contém algumas peças certas, como a volta da protagonista original e bons efeitos de sangue e vísceras, mas parece não saber o que fazer com isso, e joga todas as boas oportunidades no lixo para mais uma trama clichê e pouco inspirada.

Face de couro

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A lição que podemos aprender é que algumas vezes, é melhor deixar algumas franquias para trás. O primeiro Massacre da Serra Elétrica é praticamente perfeito, ele faz tudo que poderia ser feito com aquela trama. 

O segundo já mostrou uma visão mais humorística e exagerada, que não era o ideal, mas também já explorou tudo que já poderia ser feito na franquia.

Do terceiro filme para cima, tudo é uma repetição de ideias que já funcionaram, e até mesmo das que não funcionaram.

Como o orçamento é sempre baixo, até mesmo uma bilheteria baixa já é maior que o custo do filme, o que explica a quantidade de tentativas de reviver a franquia.

De forma irônica, é como se a franquia estivesse usando o rosto esfolado do primeiro filme, assim como o vilão faz com suas vítimas.

Será que ainda há alguma esperança para essa franquia? Tudo é possível, mas vale dizer que há várias obras influenciadas pelo Massacre da Serra Elétrica que entenderam a essência do original sem necessariamente fazer parte da série, como os já citados X- A Marca da Morte (2022) e Resident Evil VII (2017).

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