O curta “Logorama”, com duração de apenas 15 minutos, conquistou o mundo cinematográfico, sendo considerado o melhor da sua categoria em 2009, no Festival de Cannes, e recebendo o Oscar de melhor animação em 2010. Escrito pelos franceses François Alaux, Hervé de Crecy e Ludovic Houplain, a animação cria uma verdadeira cidade-propaganda repleta de marcas conhecidas pelo mundo todo. A ambientalização distópica é equilibrada com doses de humor e referências que enchem os olhos dos espectadores.
Ele é tão bem trabalhado que, mesmo assistindo mais de uma vez, é praticamente impossível reconhecer todas as marcas que compõem as ruas coloridas da cidade. Toda poluição visual e auditiva foi construída com o simples propósito de causar reflexão no telespectador que, ao ver as diversas empresas que dominam o espaço urbano, assimila isso ao mundo real. Questionamentos são gerados quando paramos para analisar o quão próximos realmente estamos da fantasia criada pelo francês.
A história tem como arco central a perseguição do personagem Ronald Mcdonald – famigerado representante de um dos maiores fast food do mundo – por dois policiais caracterizados como os bonecos Michelin. A trama é relativamente simples, porém muito bem construída para causar impacto. Um exemplo que gera estranheza, mas não foge do propósito dos escritores, é que todos os habitantes da cidade – sejam humanos ou animais – tomaram formas de logomarcas conhecidas, fazendo alusão a como o mundo é dominado pelas grandes corporações. Isso, entre outros fatores, torna a obra muito mais complexa do que aparenta ser. Ao decorrer do desenvolvimento da animação, podemos acompanhar uma caça desenfreada, aludindo à própria disputa feroz do capitalismo mundial, que presenciamos todos os dias. A cidade, que já não suporta mais sua incessante busca para saciar seus apetites consumistas, chega à sua ruína.
Além de ser uma obra de extrema criatividade, traduz a imensidão de cores e logos em uma grande crítica social, nos levando a reparar na quantidade de marcas diversificadas – umas até um pouco estranhas – que regem nosso cotidiano e influenciam nossas decisões diárias. Uma década após seu lançamento, podemos presenciar similaridades e desdobramentos da obra no contexto das mídias sociais. Atualmente, a disputa por visibilidade, números e popularidade crescem cada dia mais, onde marcas tentam desesperadamente ocupar cada vez mais espaço na vida do consumidor. A poluição visual e a quantidade de informação que temos que processar ao decorrer do filme é até um pouco angustiante – propositalmente – e quando paramos para analisar o contexto concluímos que lidamos todos os dias com essa realidade, só que de forma virtual.
Assista ao curta-metragem na íntegra: