Saltar links

Como funciona o rebranding de franquias de cinema

“Something in the Way, 
Hmmmmmmmmm hm
Something in the Way,
Yeah”

A voz melancólica de Kurt Cobain embalou os primeiros trailers do filme The Batman (2022), estrelado por Robert Pattinson e dirigido por Matt Reeves. 

A escolha da música foi perfeita para representar a versão de Pattinson, sendo mais jovem, inexperiente, trágica e sombria.  

Essa foi uma das várias reformulações do personagem nos cinemas, que teve sua primeira participação nas telas ainda em 1966, com o filme Batman – O Homem Morcego, com Adam West no papel do herói.

As primeiras versões no cinema.

Essa primeira encarnação nos cinemas era baseada no seriado de TV, que tinha um clima mais bem-humorado e infantil, e essa foi a imagem que se teve do personagem por muitos anos. 

Adam West e Burt Ward como Batman e Robin, respectivamente.

Nos quadrinhos, a história era um pouco diferente, Batman se tornou um personagem mais sombrio quando passou pelas mãos de autores renomados como Frank Miller, Alan Moore e Grant Morrison.

Isso se refletiu na segunda adaptação do personagem, no filme Batman (1989), dirigido por Tim Burton. Nessa versão, Michael Keaton deu um tom mais gótico ao homem-morcego.

Batman foi um dos grandes sucessos da década de 1980, mas quando a sequência chegou em 1992, intitulada Batman: O Retorno, a recepção não foi totalmente positiva.

Muitos pais ficaram preocupados com a violência mostrada no filme, que impactou as vendas de merchandising para as crianças na época. 

Michael Keaton interpretou Batman nos cinemas nos anos 1980.

Por conta disso, a Warner Bros, detentora dos direitos do personagem nos cinemas, temendo perder lucros, procurou uma abordagem diferente para os filmes seguintes.

Joel Schumacher foi escolhido para comandar o filme Batman Eternamente, em 1995, que procurava trazer de volta o tom mais cômico do seriado dos anos 1960. O ator dessa vez foi Val Kilmer. 

O filme não foi bem de crítica, mas foi bem mais lucrativo que O Retorno. Se acreditou, na época, que Val Kilmer não havia convencido o público como Batman, e logo foi substituído.

A sequência chegou em 1997, desta vez com George Clooney no papel. Esse filme exagerou ainda mais na infantilidade, se tornando um filme bem bobo e que desagradou críticos, fãs e o público. É considerado por muitos o pior da franquia.

Clooney tentou trazer o personagem para um tom mais cômico novamente.

A trilogia do Cavaleiro das Trevas

Levaram-se anos para trazer o personagem de volta às telas, até que, em 2005, foi lançado Batman Begins, dirigido por Christopher Nolan, dessa vez estrelado por Christian Bale.

A abordagem desse filme foi totalmente o oposto do que havia sido feito até então, com uma pegada mais realista. 

https://giphy.com/gifs/maudit-maudit-batman-christian-bale-9aYNWVvQNnSBq

O novo Batman parecia mais um filme de crime prestigiado, e conseguia balancear muito bem os elementos de quadrinhos com o realismo proposto.

Begins foi um sucesso de público e crítica, e logo já veio a sequência, Batman – O Cavaleiro das Trevas (2008).

Esse filme é considerado por muitos um marco nas adaptações de quadrinhos para o cinema, foi um sucesso estrondoso de bilheteria e crítica, e é considerado por muitos não apenas o melhor filme do Batman, mas o melhor filme baseado em quadrinhos já feito.

A atuação de Heath Ledger como Coringa se tornou icônica, apesar do trágico falecimento do ator antes mesmo da estreia do filme. Ledger levou um Oscar póstumo por seu papel.

O Batman de Christian Bale e o Coringa de Heath Ledger são versões muito aclamadas dos personagens.

Em 2012, chegou o final da trilogia dirigida por Nolan, Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge, e a resposta foi um pouco mais morna, mas ainda relativamente positiva por fãs e público.

Dado o fim da trilogia, que fechava totalmente o arco do personagem naquela encarnação, a DC e a Warner planejavam levar o personagem para outra abordagem, dessa vez com um plano para competir com o Universo Compartilhado da Marvel (a concorrente nos quadrinhos e no cinema), que ganhava força naqueles anos.

Reformulações para o universo DC

Ben Affleck como Batman.

Com isso, em 2013, Ben Affleck foi revelado como o novo Batman, que faria sua estreia no filme Batman vs Superman: a Origem da Justiça (2016). A reação do público foi um tanto negativa. 

Quando o filme foi lançado, as reações foram mistas, alguns fãs gostaram da abordagem mais bruta do personagem (inspirada na versão escrita por Frank Miller), mas pode-se dizer que boa parte do público desgostou ou ficou indiferente sobre o Batman de Affleck.

Se planejou, na época, um filme solo para o personagem, que seria dirigido pelo próprio Ben Affleck, vários roteiros foram feitos e descartados, eventualmente o diretor Matt Reeves foi chamado para comandar o filme.

Após alguns anos de desenvolvimento sem nenhum avanço real, Ben Affleck parecia desinteressado em continuar com o papel, então o que seria seu filme solo acabou se tornando algo completamente diferente, mas ainda com o diretor Matt Reeves no comando.

Something in The Way

Dessa vez se planejou uma nova história, e um novo ator para interpretar o personagem, o filme não teria nenhuma ligação com o universo criado pela DC, sendo uma aventura totalmente separada em um universo próprio (algo que já havia sido feito com o personagem Coringa em 2019, que obteve bastante sucesso).

O ator escolhido dessa vez foi Robert Pattinson, e as reações, novamente, foram bem mistas. Alguns fãs desgostaram por lembrarem de Pattinson apenas como o vampiro da Saga Crepúsculo, mas outros consideraram uma boa escolha, por seu histórico de atuações em filmes renomados como Bom Comportamento (2017) e O Farol (2019).

O Batman detetive de Robert Pattinson.

A abordagem aqui foi trazer o personagem em um caráter mais investigativo, baseado no gênero noir. Esse Batman seria inexperiente no combate, e usaria mais a inteligência e a observação como seus aliados.

O filme foi lançado com o título The Batman (2022), sua recepção foi bem positiva, muitos gostaram do retorno a uma abordagem mais realista, mas que ainda tinha sua própria identidade. 

No momento, já se planeja uma sequência marcada para 2025, novamente com Pattinson no papel do homem-morcego.

https://giphy.com/gifs/TheBatman-batman-warner-bros-the-FeuBTRQd0pcGdsk486

Em conclusão, esse é um dos personagens que mais passou por diferentes fases no cinema, Batman já foi cômico, então sério, cômico novamente e sério novamente. São visões variadas da mesma persona, algumas mais bem sucedidas que outras.

O que Cavaleiro das Trevas e The Batman fizeram muito bem foi entender que o personagem tem uma base sólida e rica para histórias pautadas pela realidade, coisas que o público consegue identificar. 

O Batman de Christian Bale era perfeito para o cenário de sua época, com discussões sobre privacidade, terrorismo, tortura e policiamento, algo que se discutia muito em 2008. 

Já o Batman de Pattinson conversa muito bem com assuntos sérios da atualidade, como o extremismo surgido na internet, que resultam em massacres e atentados (praticamente o plano do vilão Charada no filme) e como a corrupção política afeta a sociedade. 

Foram filmes que souberam tratar desses assuntos e ainda conseguiram trazer entretenimento, sem subestimar a inteligência do público, trazendo um espelho para nossa realidade sob a ótica de uma ficção.

Mais
Arraste