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Uma marca chamada Linkin Park

Como a banda se tornou um dos negócios mais lucrativos do século, e como retornaram com um rebranding após 7 anos de inatividade?

“Um pouco de Nine Inch Nails, um pouco de Hip-Hop, um pouco de Nu Metal, embalado como uma Boy Band.” 

Foi assim que o músico Steven Wilson descreveu a banda Linkin Park em seu podcast “The Album Years” quando analisou o disco Hybrid Theory (2000), e apesar de ser uma brincadeira, o objetivo de Wilson não era fazer graça da banda, mas sim trazer uma explicação de como ela se tornou tão famosa e icônica.

Linkin Park é uma das bandas mais importantes das últimas décadas, com sua mistura variada de gêneros que vão de Metal, Pop, Hip-Hop e música eletrônica, eles conquistaram milhões de fãs ao redor do mundo e são figuras carimbadas em todas as rádios, canais de música e playlists modernas com seus hits gigantescos.

Mas o que fez a banda ser tão bem-sucedida em sua época? E como ela conseguiu voltar a ser relevante após a trágica morte do seu vocalista 7 anos atrás?

Vamos começar do zero.

DO XERO AO LINKIN PARK

A primeira demo da Xero já tinha muitos elementos que estariam no Linkin Park, mas faltava um vocal mais potente.

A banda começou em 1996 na Califórnia, EUA, formada inicialmente por Mike Shinoda, Brad Delson, Rob Bourdon, Joe Hahn, Dave Farrell e Mark Wakefield, inicialmente chamada de Xero (pronunciado Zero). 

Desde o início, a banda já misturava vários gêneros diferentes e contava com Mark Wakefield como o vocalista principal, em dueto com Shinoda, que fazia as passagens de Rap e Hip-Hop. Eventualmente, Wakefield foi substituído pelo cantor Chester Bennington.

A banda então mudou de nome para Hybrid Theory, por conta da experimentação com gêneros que faziam, e logo depois mudaram novamente para Linkin Park, em homenagem ao Lincoln Park, localizado em Santa Monica, LA.

Com várias demos e shows ao vivo, a banda foi recusada incontáveis vezes pelas principais gravadoras, que não entendiam sua proposta e acreditavam que o grupo nunca faria sucesso. Após muitas tentativas, eles conseguiram um contrato com a Warner Music em 1999. Um ano depois, lançaram seu debut, Hybrid Theory, e o resto é história.

TEORIA HÍBRIDA

Poucos debuts de banda foram tão bem-sucedidos e estrondosos como Hybrid Theory, com cerca de 20,8 milhões de cópias vendidas. É o número 47 na lista de álbuns mais vendidos da história e o único disco de rock da lista dos anos 2000.

Contando com hits gigantescos como In The End, Papercut, Crawling e One Step Closer, o álbum foi relativamente bem recebido pela crítica, apesar de receber muitas críticas negativas por variados motivos.

Muitos críticos e fãs de rock mais velhos achavam a banda muito Pop e acessível para ser considerada metal. Uma das piadas mais feitas na época é de que era “Metal para playboys com raiva” ou “Boy Band do Metal”.

Apesar de ser uma piada para ofender os fãs da banda, há um certo ponto de verdade nas críticas, mas a questão é que essa sensibilidade Pop ajudou a banda a ficar mais famosa e bem-sucedida. 

O som deles não era tão pesado e nem tão leve, sendo facilmente acessível para todos os públicos, inclusive servindo como uma entrada para gostar de outras bandas do mesmo estilo.

Linkin Park era a junção de vários gêneros que faziam muito sucesso. O lançamento do disco culminou exatamente na época em que Hip Hop, Nu Metal e música eletrônica viviam sua era de ouro, quando o grupo veio misturando os três gêneros, eles conseguiram captar fãs desses diferentes estilos, e não apenas em seus nichos específicos.

Mas não apenas por isso, os membros da banda são genuinamente talentosos e conseguiram fazer essa mudança de tons funcionar de modo que era fácil de ouvir e curtir. 

Mesmo virando chacota para os fãs mais hardcore desses gêneros, o fato de que até os seus pais, mães e avós estavam ouvindo a banda diariamente só ajudou a aumentar a sua popularidade.

O flow de Shinoda era bem equilibrado com os vocais explosivos de Bennington, junto às melodias memoráveis e remixes de Joe Hahn e o resto da banda.

CONEXÃO TOTAL COM OS FÃS

O motivo do sucesso estrondoso do Linkin Park, além da sorte de estar no lugar certo e na hora certa, foi a administração genial de sua imagem com os fãs.

Os visuais dos membros da banda e os videoclipes refletiam muito bem o estilo, a moda e o design que agradava os jovens da época. 

Era possível ver que eles tinham muita influência de anime, videogames e filmes, mostrando que eles também gostavam das mesmas coisas que seus fãs. Essa sintonia ajudou muito na identificação do público.

Os Gundams no início do clipe são uma prova do amor da banda por animes.

Isso se deve muito ao fato de que Mike Shinoda e Joe Hahn foram membros da escola de design Art Center de Pasadena, Califórnia, uma das mais estimadas do mundo. Eles usaram suas experiências para criar as capas dos discos, os visuais dos videoclipes e todas as artes do merchandising. 

O responsável pela prática de montagens AMV na internet.

A influência dos animes culminou no clipe da faixa Breaking The Habit, do segundo álbum, Meteora (2003), e seu impacto foi tão grande entre a comunidade de fãs que logo surgiram os famosos AMVs (Anime Music Video), que são clipes montados por fãs que usam trechos de animes e músicas da banda, uma prática que se tornou um meme na internet.

Linkin Park virou sinônimo de música de anime.

A banda também usou a internet de forma bem inteligente, criando um site próprio para os fãs, chamado Linkin Park Underground, que contém fóruns, novidades, bastidores e descontos exclusivos para membros, e que continua forte até hoje. 

https://lpunderground.com – Ativo desde 2001 como o principal site para os fãs da banda.

Além disso, a maioria dos fãs de Linkin Park eram adolescentes, uma fase em que todas as emoções estão à flor da pele, e muitas músicas da banda lidavam com depressão, raiva, tristeza, falta de pertencimento, autoconfiança e outros temas bem delicados. 

Por mais que os críticos tenham feito graça da banda pela simplicidade que esses temas eram abordados, muitas pessoas se identificaram com a temática das letras e criaram uma relação emocional sólida com a banda, ao ponto de se sentiram salvas por suas músicas.

A revelação dos problemas de Chester Bennington com sua própria saúde mental deixaram essa conexão ainda mais forte para muitos fãs. Todos esses elementos criaram uma base extremamente fiel e unida com um sentimento de comunidade muito forte.

OS OUTROS ÁLBUNS

Linkin Park nunca deixou de ser uma banda gigantesca no mainstream, mas é inegável que sua era de ouro foi nos dois primeiros álbuns.

Hybrid Theory e Meteora são os chamados “Hitmakers”, em que é possível pegar qualquer música aleatória do álbum e ter certeza de que foi um hit na sua época. Inclusive, eles ainda são os álbuns mais ouvidos no Spotify e outros serviços de streaming.

Mas como foi estabelecido, Linkin Park é uma banda muito híbrida, e logo o som de Nu Metal já não interessava tanto a banda, que diminuiu consideravelmente a parte de Rock em seus próximos álbuns.

Em 2007, veio o Minutes to Midnight, que já contava com uma abordagem menos agressiva, mas que ainda agradou à maioria dos fãs, especialmente com What I’ve Done, famosa por tocar no final do primeiro Transformers.

“More than meets the eye…”

Já em 2010, foi lançado A Thousand Suns, que era bem mais experimental e Pop, e dividiu bem os fãs, mas ainda assim, tem muitos defensores de sua abordagem.

A Thousand Suns (2010) focou na experimentação.

Em 2012, foi lançado Living Things, e agora já não havia nenhum elemento de Metal em seu som, focando exclusivamente em Pop eletrônico e Rap. Esse lançamento dividiu ainda mais os fãs. 

Living Things (2012) pisou fundo no eletrônico e deixou o Metal totalmente de lado.

Muito por conta da recepção de A Thousand Suns e Living Things, o próximo disco, The Hunting Party (2014), procurou trazer de volta mais elementos de Rock ao som da banda, mas boa parte dos fãs dos primeiros discos já tinham perdido o interesse neste ponto.

The Hunting Party (2014) tentou trazer o rock de volta, mas chegou tarde na festa.

E por fim, chutando o balde de vez, One More Light (2017) deixou tudo de lado e fez um álbum puramente Pop, que foi muito odiado pelos fãs, até por aqueles que ainda defendiam a banda.

Essa parte na história é bem delicada, pois também culmina na tragédia pessoal do vocalista Chester Bennington, que após uma vida inteira lutando contra a depressão, acabou cometendo suicídio em 20 de julho de 2017. 

A DOLOROSA PARTIDA DE BENNINGTON

A morte de Bennington atingiu todos os fãs com muita força, pois ele era o principal rosto da banda, e foi um dos vocalistas mais famosos de sua geração. Foi a voz que acompanhou a vida de milhares de fãs em seus momentos mais felizes e tristes. 

Houve vários shows em homenagem ao legado de Bennington em 2017, com a ajuda de músicos e amigos do cantor e da banda.

A banda não tinha como continuar após a tragédia, e o Linkin Park entrou em hiato indefinido. O futuro parecia muito incerto e as únicas novidades foram relançamentos dos álbuns e algumas faixas de Bennington que nunca haviam sido lançadas até então.

Friendly Fire foi a última faixa lançada com Bennington nos vocais

RECOMEÇANDO DO ZERO

No final de agosto, uma misteriosa contagem regressiva apareceu no site da banda, e muitos começaram a teorizar que a banda iria retornar, também havia rumores de que uma nova vocalista surgia no grupo.

Quando a contagem regressiva chegou a zero, uma mensagem apareceu escrita “Be part of something”, com a data 5 de setembro e um horário. 

Quando o dia chegou, os fãs que aguardaram foram agraciados com um show, em que foi revelada a nova vocalista da banda, Emily Armstrong (da banda Dead Sara).

Além da revelação, também foi lançada uma nova música, The Emptiness Machine, e a data de lançamento do novo álbum, intitulado From Zero.

Sobre a nova fase, Shinoda declarou no show:

“Estamos emocionados por estar de volta aqui. Não se trata de apagar o passado – trata-se de iniciar este novo capítulo no futuro e vir aqui para cada um de vocês. Adoramos tocar para vocês, adoramos escrever essa música – estamos muito animados com o novo disco. Então, muito obrigado a vocês – tivemos uma noite incrível com vocês. Esperamos ver você em breve.”

A recepção foi bem positiva pela maioria dos fãs, que estavam felizes em ver a banda retornar, e apesar de ser bem evidente o nervosismo de Armstrong no primeiro show, esse não era exatamente o seu primeiro rodeio.

Dead Sara é uma banda que foi considerada uma das “novas promessas do Rock” dos anos 2010, eles lançaram três álbuns – Dead Sara (2013), Pleasure to Meet You (2015) e Ain’t It Tragic (2021) – que apesar de não serem muito famosos, foram muito bem recebidos pela crítica e por fãs do gênero.

Ame ou odeie, Armstrong definitivamente sabe gritar e tem a energia de uma Rockstar.

Mas o estranhamento dos fãs não é totalmente inválido, afinal, são bandas bem diferentes. Dead Sara traz um Rock mais cru, bem inspirado em Grunge. E Linkin Park tem influências de Hip-Hop, eletrônico e Pop.

É novamente a teoria híbrida em ação, Shinoda acreditou que a banda precisava trazer essas misturas de volta à banda, pois foi isso que a definiu em primeiro lugar.

PESADA É A COROA

Essa primeira música já é evidentemente sobre a recepção da novidade. 

No início, temos apenas Shinoda cantando, reintroduzindo o som da banda para novos e velhos fãs. O primeiro trecho parece bem direcionado às críticas que eles sabiam que iam receber (e que sempre tiveram ao longo de sua carreira).

Your blades are sharpened with precision, Flashing your favorite point of view”, seria algo como: “Suas lâminas são afiadas com precisão, brilhando seu ponto de vista favorito”.

Após o primeiro refrão cantado apenas por Shinoda, é o momento de Armstrong. Inicialmente ela canta mais levemente, habituando-se à música, e quando o refrão volta pela segunda vez, ela finalmente se solta completamente.

É nesse momento em que os fãs decidem se querem continuar ou se é hora de desembarcar. Mas independente das opiniões, essa música definitivamente tem a essência da banda: a estrutura de uma música Pop, com a agressividade que Armstrong traz de volta.

Algum tempo depois, também foi lançado o segundo single, Heavy is The Crown, que serviu de música para a nova temporada do game League of Legends.

Houve algumas controvérsias sobre sua contratação, aparentemente Armstrong cresceu dentro da Cientologia (ela é nativa de Los Angeles e seus pais são figurões da religião) e chegou a defender um dos membros da igreja, o ator Danny Masterson, que havia sido acusado de estupro e abuso sexual por várias mulheres. Ela justificou dizendo que na época ele era um amigo, e após o julgamento e o veredito de culpado, ela cortou qualquer relação com o sujeito. 

Apesar das polêmicas, o rebranding da banda parece ter sido bem-sucedido. Eles já fizeram vários shows pelo mundo, todos tiveram ingressos esgotados em questão de minutos, e a banda veio ao Brasil no dia 15 de novembro, mesmo dia do lançamento do novo álbum.

O novo álbum praticamente explora todas as fases da banda, servindo como uma reintrodução do seu som. Há influências de Metal, Rock e Hip-Hop que consagraram Hybrid Theory/Meteora em faixas como Heavy is The Crown, Casualty, Two Faced e IGYEIH, e também tem a influência de Pop e eletrônico em músicas como Over Each Other, Overflow e Stained.

É um álbum feito para agradar à maioria dos fãs, e a reação parece ser majoritariamente positiva, mesmo que ainda tenha seus críticos fervorosos.

Mas queremos também saber a sua opinião: você é fã da banda? Está animado com a nova fase? Gostou do novo álbum?

Fontes: https://linkinpark.fandom.com/wiki/Linkin_Park

https://tangerina.uol.com.br/musica/friendly-fire-linkin-park-chester-bennington

https://www.youtube.com/watch?v=tcKE3BAuJvw&t=1370s&ab_channel=graymads

https://www.youtube.com/watch?v=6D7wgGnvYv0&t=1086s&ab_channel=ThePunkRockMBA

https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2024/09/05/linkin-park-anuncia-volta-com-nova-cantora-album-e-turne-mundial.ghtml

https://www.billboard.com/music/music-news/linkin-park-countdown-timer-new-vocalist-rumors-1235760479

https://rollingstone.com.br/musica/linkin-park-faz-primeiro-show-apos-retorno-saiba-como-foi

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