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We Have To Go Back – os 20 anos da série Lost

Previously on Lost

O cenário da TV como entretenimento era bem diferente em 2004 do que em 2024, e apesar dos anos 2000 serem considerados a “era de ouro da televisão americana”, com séries aclamadas como The Sopranos (essa na virada do milênio, mas ainda conta), Breaking Bad e Mad Men todas surgindo nessa década, a série que realmente mudou o cenário para algo maior foi Lost, exibida pela primeira vez em 22 de setembro de 2004, há 20 anos.

Não somente Lost foi um fenômeno em sua época, mas o seriado também iniciou (ou popularizou, ao menos) diversos hábitos que hoje em dia são muito comuns, como: interações multimídia, ARGs, discussões de fóruns e o ato de “maratonar” episódios.

Ela também marca um período em que se transiciona o formato antigo de exibição com a nova era de prestígio televisivo.

Mas para entender todos os mistérios que assombram a ilha de Lost e seus 20 anos de impacto cultural, vamos começar do início, ou como era comum na série, vamos conferir o flashback de sua produção. 

Náufrago: A Série

O pitch inicial de Lost teve início com o executivo Lloyd Braun, que até então era presidente do canal ABC, e a ideia era fazer uma série sobre pessoas sobrevivendo em uma ilha, algo similar ao filme “Náufrago” (2000), de Tom Hanks.

Inicialmente, a ideia foi rejeitada, mas foi pega depois pela equipe criativa formada por J.J. Abrams, Damon Lindelof e Jeffrey Lieber, que fizeram um brainstorming para incrementar o plot, elaborando os personagens e a história.

É debatível quem veio com a ideia primeiro, mas acredita-se que J.J. Abrams (na época famoso como showrunner de séries como Alias e Felicity) imaginou adicionar mistérios dentro da ilha, com a inclusão de uma escotilha apontando que os personagens não estavam sozinhos.

As ideias foram florescendo e assim foi se construindo o roteiro da primeira temporada. Eventualmente Braun deu sinal verde para a gravação do episódio piloto, que custou cerca de 11 milhões de dólares, o custo mais alto da história para um episódio de TV até então. 

O melhor piloto da história?

O primeiro episódio de Lost é lendário na história da televisão, muitos discutem qual é o melhor episódio piloto já feito, e geralmente Lost encabeça o primeiro lugar em diversas listas.

O motivo é simples, poucas séries te agarram nos primeiros 10 minutos como Lost faz. 

O episódio começa com um dos personagens principais, Jack, acordando em uma floresta, ele logo ouve gritos vindo de uma direção e acaba parando numa praia, onde vê a fuselagem de um avião caída na areia e várias pessoas no meio do caos.

Desde que Jack abriu os olhos pela primeira vez na floresta, a televisão nunca mais foi a mesma.

Essa cena é tensa, caótica e, ao mesmo tempo, ela apresenta todos os personagens e todo o drama que se seguirá pela temporada. 

Na trama, um avião é misteriosamente partido em três partes no ar, caindo em uma ilha. No acidente, sobrevivem 71 passageiros, entre eles estão o grupo de personagens que iremos acompanhar na série. No decorrer da história, há vários acontecimentos fantásticos e mistérios dentro da ilha que desafiam toda a lógica.

Algo que já encanta nesse primeiro episódio é a inclusão dos mistérios, como: 

O que aconteceu com o avião? 

Por que um dos personagens (Locke) que era cadeirante ganhou movimento assim que chegou na ilha? 

Por que há um urso polar numa ilha tropical? 

O que é o monstro que matou o piloto do avião?  

Por que ninguém de fora consegue encontrar a ilha?

Mas além desses mistérios, que vão aumentando a cada temporada, a série apresentou personagens muito interessantes, que também tinham seus segredos que eram revelados aos poucos.

Visões do passado

A estrutura de episódios de Lost era muito bem planejada, todo episódio focava em um personagem específico, e alternava entre o presente e o passado, com uso de flashbacks para incrementar a história e personalidade de cada um. Enquanto as sequências no presente eram usadas para progredir a trama principal.

Essa estratégia de roteiro foi extremamente bem sucedida, pois além de captar a curiosidade dos acontecimentos na ilha, também gerava interesse sobre o drama particular de cada personagem.

Era uma série que tomava seu tempo para caracterizar cada peça do tabuleiro, por mais pequena que fosse, assim enriquecendo cada aspecto da história.

Lost se aproveitou muito da estrutura de episódios comum daquela época, que era cerca de 20 a 24 episódios de 40 minutos exibidos semanalmente.

De certa forma, esse formato de exibição ajudou a popularidade da série. Por se basear muito em mistérios, cada episódio gerava engajamento e enchia os fóruns de internet toda semana, e isso se estendia por meses.

Construção de universo multimídia

Lost também foi famoso por aplicar uma construção de universo através de diferentes mídias. 

Houveram livros, web episódios, um jogo de videogame e foram realizados cinco ARGs (Augmented Reality Games) baseados no mundo da série. 

Eram basicamente jogos criados pela equipe de publicidade com segredos colocados em propagandas da série, além da criação de sites falsos, números de telefone e várias outras ações que criavam ainda mais mistérios para os fãs teorizarem.

A construção do universo foi tanta, que até outros projetos de J.J. Abrams foram considerados parte do universo Lost (mesmo que sem nenhuma ligação).

Um exemplo foi o filme Cloverfield – Monstro (2008), produzido por Abrams, que muitos fãs teorizavam que fizesse parte do mesmo universo da série (spoilers: não tinha nada a ver).

Antes do lançamento, fãs acreditavam que o filme teria relação com o universo de Lost.

Essa estratégia de materiais multimídia foram essenciais para criar hype para cada temporada, porque Lost estava sempre na mente de seus fãs, mesmo durante os intervalos entre temporadas. 

Isso não era algo necessariamente novo, mas nenhuma série tinha feito isso tão bem quanto Lost até então.

A eventual queda da série

O problema de criar tantas teorias e mistérios é que a realidade nunca vai atender a todas as expectativas que os fãs tinham.

E foi exatamente esse o caso de Lost. Inicialmente elaborada para finalizar em sua quarta temporada, a série se tornou muito lucrativa e popular, e com isso, foram adicionadas novos personagens, novas revelações e muito mais mistérios, que estenderam a série para mais duas temporadas.

O consenso de muitos fãs é que a série começou a perder o rumo após a terceira temporada, com a inclusão de viagem no tempo e realidades paralelas, que até renderam bons episódios, mas que no geral pareciam estar ali apenas para estender sua duração desnecessariamente.

E com isso veio o polêmico episódio final de Lost, que divide opiniões até hoje. 

Se o episódio piloto de Lost é considerado um dos melhores da história, o seu final, para muitos, é um dos piores.

Para não dar spoilers para aqueles que ainda estão curiosos para experienciar a série pela primeira vez, só digamos que o final de Lost deixa vários mistérios sem solução e aqueles que são revelados são um tanto decepcionantes.

Apesar do final, Lost ainda é lembrada com carinho por muitos fãs, não muito pelos mistérios e revelações, mas pela experiência de acompanhar essa história por anos, de formar amizades nos fóruns de teorias, de ter seus personagens favoritos, e pelos memes compartilhados (ainda que não fossem tão populares na época).

É um daqueles casos em que “a jornada valeu mais a pena que o destino final.”

Assim como a vida.

O impacto de Lost

Lost foi lançada antes do fenômeno dos streamings, sua popularidade foi construída pela TV a cabo, torrents e pelos boxes de DVDs. 

Há muitas pessoas que acompanharam as temporadas completas após alugar os boxes em locadoras, ou em arquivos gigantes de torrent com todos os episódios.

Com isso, o hábito de “maratonar” séries começou nessa época, e Lost era uma das principais séries maratonadas, algo que hoje é um hábito comum nos serviços de streaming.

A estratégia de interação multimídia, com uso de ARGs, podcasts, fóruns, livros e games é uma prática que Lost provou ser muito lucrativa, e é algo que permanece sendo praticado por séries famosas até hoje.

Por exemplo, praticamente tudo que foi dito sobre Lost, pode também ser dito para Game of Thrones nos anos 2010.

Em algum ponto da década, GOT foi a maior série do mundo:  todos estavam comentando, fóruns enchiam de teorias, cada episódio era um recorde de audiência, e também haviam vários materiais multimídia que mantinham o mundo de Westeros sempre na boca do povo.

E ambas tiveram um final polêmico que deixou muitos fãs desapontados, mas ainda são lembradas com carinho pela jornada que possibilitaram.

Mesmo após 20 anos, e por mais que tenha tido sua queda, Lost foi um fenômeno que ainda inspira novas séries e é lembrada como um marco monumental na história da televisão.

Seu impacto certamente nunca foi “perdido”.

Fontes: https://lostpedia.fandom.com/pt/wiki/LOST

https://lostpedia.fandom.com/pt/wiki/Pilot,_Parte_1

https://lostpedia.fandom.com/wiki/Alternate_reality_game

https://www.indiewire.com/features/general/damon-lindelof-regrets-lost-ending-4-seasons-marvel-1234750788/#:~:text=Over%20a%20decade%20after%20“Lost,if%20Lindelof%20had%20his%20way.

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